Todos os dias, fotos perfeitas lotam a timeline do Instagram. Os stories mostram pessoas completamente felizes e seguras de si, se divertindo como nunca em qualquer momento da semana. Algumas delas, inclusive, se tornam irreconhecíveis ao vivo. Afinal, são tantos filtros e tanta preparação antes de gravar um vídeo ou tirar uma foto que pouco da realidade sobra para ser registrada.
Kévin Perreau e Alexis Barreyat eram apenas mais dois indivíduos no mundo, cansados com o brilhantismo e perfeição irreal de influenciadores digitais, quando decidiram levantar fundos para um projeto que ia contra tudo isso: o BeReal.
O aplicativo foi desenvolvido na França e lançado em 2020, ganhando significativa popularidade no país. Sua premissa é simples: todos os dias, em horários distintos, todos os usuários recebem uma notificação, solicitando que tirem duas fotos – uma com a câmera frontal e outra com a câmera traseira –, mostrando o que quer que esteja fazendo naquele momento; tudo isso em apenas 2 minutos. Qualquer postagem realizada após esses 2 minutos é marcada como atrasada.
No BeReal, não há curtidas, filtros ou anúncios – e, além disso, você só pode ver o que foi registrado por seus amigos quando você mesmo compartilhou alguma coisa. O número de seguidores também é ocultado, impedindo essa ideia de determinado perfil ser considerado famoso.
A partir de 2021, o aplicativo passou a fazer sucesso em outros países, alcançando alguns milhões de usuários em 2022. Extremamente popular em algumas localidades – como Estados Unidos, França e Reino Unido –, o BeReal também é uma demonstração de busca por redes sociais “mais saudáveis”.
Cada vez mais conscientes, os usuários notam que as distorções de imagem e de perspectiva de vida derivadas do abuso de filtros e de demonstrações de realidade perfeita em redes como o Instagram causam uma série de prejuízos para a saúde mental do indivíduo.
Os problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, sempre estiveram presentes na humanidade. Entretanto, na última década principalmente, a discussão sobre o assunto se tornou mais honesta, menos hostil e o tabu vem sendo desconstruído. A ideia do BeReal é justamente essa: oferecer a diversão e a interação propostas por uma rede social, mas sem desmoralizar e pressionar seus usuários a serem perfeitos.
A proposta do BeReal não é exatamente criativa, mas, sem dúvida, é inovadora diante das redes sociais disponíveis hoje. O seu valor está em fortalecer o objetivo inicial de uma rede social – interação com outras pessoas –, sem causar danos ao psicológico de seus usuários, como faz seus concorrentes.
Se isso é suficiente para sobreviver no mercado? Não. Novas ideias surgem diariamente e o frenesi causado por algo diferente pode reduzir consideravelmente – ou até desaparecer. O Snapchat é um exemplo típico do abandono; antes era uma febre, agora é facilmente substituído pelas ferramentas do Instagram, do Facebook ou mesmo do WhatsApp.
Então, o que se conclui é que ideias podem ser inovadoras, mas não duradouras, a menos que continuem evoluindo junto de seus usuários. A rede BeReal tem um potencial formidável e tem muito valor a agregar na comunidade cibernética. O que se pode fazer é esperar pelos próximos capítulos e verificar se o crescimento disparado da rede continuará assim.
O que achou da BeReal, a rede sem filtros?